quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Projeto Uni-Duni-Tê em ação


Desenvolvimento do Projeto Pedagógico: Uni – Duni – Tê


O Projeto Uni – Duni – Tê está sendo realizado na Escola Virginia Secco Bonin, por mim, professora Julia Campanucci e meus alunos de 1ª e 2ª etapa da Educação Infantil.
Dei inicio ao projeto na primeira semana de Agosto. Logo após as atividades e organização da sala é hora de Uni – Duni – Tê, é tempo de escolher uma brincadeira e reunir amiguinhos para brincar. Devido ao tempo frio, sugeri que brincássemos na sala. Os garotos gostam de brincar de construção, acho uma graça porque eles reproduzem as situações cotidianas de uma forma tão sábia e tão espontânea que vez por outra me pego admirada. Dessa vez eles tiveram a brilhante idéia de utilizar o capacete do kit médico para brincar de construtor, quando perguntei o motivo pelo qual usavam, um deles me respondeu sem pestanejar: “É um capacete protetor, professora. Porque estou arrumando o telhado desta casa e para que não tenha perigo de uma telha cair na minha cabeça eu uso o capacete.” Gracioso! Já minhas garotas, descobriram um baú que sempre esteve lá, mas elas nunca tiveram curiosidade em tocá-lo, e agora resolveram abri-lo e descobriram vestidinhos rodados, alguns parecidos com os de princesas e de noivas _ estão extasiadas, vez por outra eu as observo rodopiando pela sala como se dançassem num grande baile. Outras vezes, passam tempos diante do espelho notando cada detalhe de si... Jogam o cabelo, fazem carinhas de moças _ É a auto-estima em alta, quase palpável. Pudera eu ou você, guardar porções destas para que em tempos de depressão pudéssemos espalhar novamente pelo ar e agraciar tantas belas moças que já se esqueceram de amar, não aos outros, mas a si...
Num outro momento, fizemos joguinhos de equipe: meninos X meninas, eles acham super desafiador e é um barato, porque eles comemoram a cada ponto, parece jogo de vôlei, os garotos se abraçam, as meninas vibram... é uma euforia tamanho família e a professora torce para ambos os lados como se pudesse poupá-los da decepção da derrota. O joguinho proposto foi bingo de figuras, cada equipe recebeu umas 20 fichas, cada ficha uma figura. Ao passo que eu ia cantando o nome das figuras eles iam guardando as fichas, quem acabasse primeiro, seria o vencedor. É um jogo que requer atenção e ajuda dos amiguinhos, porque não é fácil memorizar tudo, então cada participante se atenta as figuras que há na mesa e, sobretudo fazem silencio para ouvir o próximo nome que a professora irá ditar. É bem bacana!
Ahh, os meninos ganharam e as garotas pediram revanche _ Em breve, bingo de figuras capítulo 2!
Outra brincadeira super gostosa e que vez por outra nós realizamos na sala é o esconde-esconde de objetos, acho super válida essa brincadeira porque posso analisar a autonomia das crianças. Algumas crianças ficam tímidas em buscar o objeto, tem medo de tocar nos armários, vistoriar prateleiras, olhar por trás da cortina... Enquanto outras crianças são ousadas, às vezes é preciso lembrá-las de que o jogo está restrito apenas a sala principal, senão querem buscar o objeto no parque, na sala de jogos, nos banheiros, nas mochilas das crianças, etc... Então, acho interessante, porque é uma forma de impor limites à alguns e incentivar outros a ir mais adiante, dar mais alguns passos, convidá-los para que se sintam mais a vontade em nossa sala. É uma forma de conhecer melhor nossos alunos.
Quando o tempo melhorou, saímos para brincar, fomos ao parque curtir os brinquedos e pular corda. Ao pular corda incentivo as crianças que recitem parlendinhas, que entoem o alfabeto e as vezes realizamos a contagem dos pulos.
Outra brincadeira do nosso momento Uni – Duni – Tê, é a memória, tenho aproveitado esse jogo para ensiná-los sobre par ou ímpar, no inicio contávamos as peças avulsas quem tivesse mais ganhava o jogo, depois passamos a contabilizar os pares. Destaco sempre que para brincar de memória é preciso contar as peças e alinhá-las e que depois não se pode movê-las ou mudá-las de lugar porque isso atrapalha nossa concentração. No começo, não raro as crianças sentem-se tentadas a aproximar as peças quando notam espaços vagos, mas à medida que vamos praticando o jogo, isso deixa de acontecer.
Ainda na primeira semana de Agosto, fizemos uma espécie de gincaninha no parque. Distribui alguns cones formando um zig zag, coloquei um colchonete e pedi que rolassem sobre ele, estiquei uma corda onde deveriam passar cuidando para não desequilibrar, e tinha algumas outras etapas a vencer como: pedalar a motoquinha, balançar no pneu imitando um cowboy, escorregar, acertar a bola no cesto do basquete e assim por diante. Foi legal, as crianças ficam atentas e observam os movimentos dos colegas e ajudam a lembrar qual é a próxima fase do jogo. Quando termina a brincadeira, muitos dizem: “Puxa professora, hoje eu me cansei!” 
Uma coisa legal que eu propus às crianças na segunda semana de Agosto, foi à visita ao parque da Escola Monsenhor, as crianças foram, brincaram, se divertiram. Já na sala, aproveitei para fazer alguns questionamentos do tipo: Qual parque é maior? O da escola Monsenhor ou da escola Virginia? Quais são os brinquedos quem temos aqui e que não tem lá? Sendo assim, onde há mais brinquedos diferentes?
Nesta mesma semana realizamos um jogo em equipes que nomeei como caça letras. Primeiro, os garotos receberam 30 letrinhas móveis e saíram para escondê-las ao parque, logo mais, as meninas tiveram 30 segundos para buscar o maior numero de letras possíveis dentro deste tempo. Em seguida havia duas caixas, sendo uma para as vogais e outra para as consoantes, então elas deveriam fazer a distribuição das letrinhas, e em seguida contá-las. Eu anotava o resultado no painel. Depois era a vez dos meninos saírem à caça das letrinhas. Uma forma divertida e descontraída de memorizar vogais e consoantes.
Quando o tempo virou para frio e chuva, nos reunimos na sala para brincarmos de amarelinha, desenhei a amarelinha dando destaque a forma geométrica e também aos números. As crianças se divertiram!
Levei para a sala de aula um dado gigante e aproveitei para ensinar adição, dividi as crianças em equipes. Um do grupo lançava o dado, o número que caia eu escrevia no painel, depois era outro time e eu também anotava o resultado, depois foi o momento de efetuarmos as continhas. Uma brincadeira que gerou uma aula de matemática.
Outro dia, nos reunimos para criar um jogo. Pedi para que as crianças dissessem nome de frutas. Foram muitas, então dei a elas uma etiqueta com a escrita da fruta escolhida e criamos as etapas e regras do jogo, pensamos no seguinte: todas as crianças ficam de costas mostrando assim a etiqueta que contem a fruta, a criança é incentivada a ler o nome da fruta e gritar, por exemplo: banana. Quem for a banana deve correr para alcançar uma bola que fica no cesto de fruta enquanto isso as outras crianças correm. A criança que tem a bola na mão deve dizer salada-saladinha e então todas as frutas param de se mexer, viram estátuas e a banana deve acertar a bola na outra fruta. Se acertar, a fruta atingida deve sair da brincadeira para gritar o nome de outra fruta que pegará a bola e assim por diante. Nomeamos a brincadeira de salada-saladinha.
E na sexta feira nós brincamos de casinha lá no parque, junto com as crianças criamos uma receita de brincadeirinha. Sugeri: a mamãe quer fazer um bolo, mas ela perdeu o seu caderno de receita, vamos ajudá-la? O que é preciso para fazer um bolo? Então cada criança foi sugerindo ingredientes e eu fui dando dicas para que pensassem também em medidas, e fui anotando no papel, depois partimos para o modo de fazer, é legal, porque as crianças participam e criam junto as brincadeiras, e vão se apercebendo da forma como se registra uma receita, e muitas até memorizam o que a professora escreveu, como: leite, açúcar, farinha, chocolate, fermento.
Abaixo algumas fotos das brincadeiras...






































                  


Sem Mais,
Julia Campanucci

Capão Bonito, 19 de Agosto de 2012.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Projeto Uni - Duni - Tê




Projeto:
Uni – Duni - Tê  



Série:
I e II Etapa Educação Infantil

Professoras:
-


Introdução

Este projeto tem como pretensão unir a alegria do Brincar com a seriedade do Aprender. Espera-se que as crianças brinquem, divirtam-se, porém aprenda com cada brincadeira proposta. Aprenda não só as próprias regras, exigidas pelo ato do brincar, mas também que ela seja estimulada a aprender conceitos importantes que lhe acompanharão por toda a vida.

              
Justificativa

Nosso maior desejo é valorizar o lúdico e proporcionar momentos prazerosos de interação, onde o aprendizado ocorra de modo dinâmico e vivo. Conteúdos, outrora, trabalhados de modo mecânico e monótono serão apreciados com o tempero do brincar e com jogos de equipes.  Sabemos bem, que é através das brincadeiras que a criança forma conceitos, interage e socializa-se. O participar ativo e constante em atividades com regras e recreativas é amplamente enriquecedor na idade infantil.

              
Objetivos

                              Através do desenvolvimento deste Projeto os alunos deverão:
 . Conhecer e apropriar-se do brincar
 . Ser capaz de criar e recriar jogos e modos de brincar;
                              . Conviver e socializar-se com os colegas, respeitando – os;
                               . Cooperar e desenvolver um espírito de trabalho em equipe;
                               . Explorar os espaços, movimentar-se e expressar-se;
                               . Cumprir os combinados e regras das brincadeiras e jogos.

              
Cronograma    
            - O Projeto será realizado no segundo semestre de 2012.
Recursos Necessários
                              - Bola;
                              - Corda;
                              - Bambolês;
                              - Giz;
                              - Jogos de Mesa;
                              - Tabuleiros;
                              - Dados;
                              - Tecidos;
                              - Cartelas de Bingo;
                              - Cones;
                              - Baús de Fantasias;
                              - Casinha;
                              - Carrinhos;
                              - Lego;
                              - Barbante;
                              - Kit Médico.


                             
Metodologia

                       - Pesquisar as brincadeiras que sejam adequadas à idade dos nossos alunos;                                            
                               - Confeccionar uma lista com as brincadeiras que abordaremos durante a semana;
                               - Realizar os jogos e brincadeiras quer seja no parque, na quadra ou em sala de aula;
                               - Propor gincanas
              



A Intencionalidade ao Brincar e/ou Jogar:

- Pula Corda: Ao propor tal brincadeira o professor poderá incentivar as crianças que realizem a contagem dos saltos, ou mencionem o alfabeto, e na letra que a criança parar de pular, ela terá de dizer um nome, uma fruta, um objeto, etc... A criança poderá recitar parlendas e canções enquanto pula a corda, isso estimulará a memória e a concentração.

- Bambolê: Há uma infinita possibilidade de jogos, brincadeiras e aprendizado. O próprio círculo, já renderá ao professor uma aula de formas geométricas. Talvez o professor deseje espalhar alguns bambolês pela quadra e dentro fazer algumas marcações com giz, por exemplo: números ou letras. Em seguida poderá dizer às crianças que há um gatinho querendo devorá-las, mas caso se escondam nas toquinhas com números pares nada de mal lhe acontecerá ou talvez nas vogais, e assim por diante.

- Amarelinha: Ao desenhar uma amarelinha no pátio, na quadra ou até em sala de aula, o professor poderá orientar os alunos explicando que uma boa amarelinha começa sempre com um quadrado e é seguida por um retângulo que dividido ao meio torna-se dois quadrados. Dentro de cada quadrado há um número. Peça para a criança registrar o numero no meio do quadrado, pergunte qual será o próximo número? Será que devemos colocá-lo no quadrado à direita ou à esquerda? Deixe que as crianças reflitam. Se ficar difícil, podemos dar dicas, como: E no caderno, de que lado fica a margem? E se aqui fosse o meu caderno, não seria correto fazer de lá pra cá (da esquerda para a direita)? etc...

- Dominó: Há tantas possibilidades, pois há na educação infantil dominós de seqüência de ações. Por exemplo: um garoto tem uma peça com a mamãe lavando roupa e o outro colega mostra a peça onde a mãe estende a roupa no varal. (Lógica e raciocínio). Há dominós numéricos, com formas geométricas, com letras, enfim... o próprio jogo já é bastante estimulante, cabe a nós professores ensinar as crianças a manuseá-los e a compreender o jogo e suas regras, aos poucos elas vão se organizando sozinhas para brincarem...

- Memória: Um jogo maravilhoso, toda criança ama e se sente estimulada e desafiada a acertar. Requer concentração, paciência e até uma malícia de jogo para guardar segredo até que chegue a sua vez de virar as peças e formar um par. Inicialmente trabalhamos contagem de peças individuais, logo mais contamos os pares, mais tarde passamos a registrar na lousa: Maria = 1 par de gatos. João = 1 par de ratos, etc... Todos = 10 pares de bichos.

- Bingo: Que delícia de jogo! Podemos fazer tantos e tantos bingos. É super estimulante e alfabetizador. Inicialmente fazemos bingos com figuras, a professora entrega às crianças cartelas coloridas e repletas de figuras... é um grande desafio memorizar todos os itens e ficar atento ao ditar da professora. Depois fazemos bingos numéricos, bingos com os nomes das crianças, bingos de sobrenome e do que mais a gente quiser... Porque bingo é flexível e ora joga-se individualmente, ora em equipes.

- Cones: esse item nos auxilia ao criarmos gincanas e desafios, as crianças são motivadas a passar por eles em zig zag, à equilibrar uma bola durante um jogo de tempo, à passar pedalando uma motoca, chutando uma bola, serve para demarcar distancias, etc...

- Casinha: Ao organizar tal brincadeira, há muitos aspectos a abordar, o professor com tato poderá incentivar a mamãe a preparar um bolo e pedir que a filhinha anote a receita num papel, incentivando uma escrita espontânea e cheia de aspectos como números, figuras e palavras. Alguém poderá ligar para casa e a mamãe talvez tenha que anotar um recado ou um número de telefone para que mais tarde o papai retorne a ligação. Talvez o filho chegue da escola com um bilhete da professora e a família precisa ler... isso é um incentivo a leitura e a escrita espontânea.

- Carrinhos: Os garotos talvez queiram criar estradas e caminhos para trilharem com seus automóveis, então por que não incentivá-los a criar placas e sinalizações. Podemos escrever junto com a criança: nome de cidades, placas de pare, proibido estacionar, crianças atravessando a rua, faixa de pedestre, entre outras coisas...
 
 - Kit Médico: As crianças poderão brincar que são médicos e terão que receitar medicamentos, podemos ajudá-las dando dicas de que na receita é preciso ter o nome do paciente (colega da sala), é preciso ter o nome do remédio, por exemplo: xarope azul. Depois vamos marcar a dose que poderá ser: 1 copo, 1 gota, 1 colher... E o horário: de manhã, a tarde ou a noite podemos indicar o sol, a lua, uma nuvem para orientá-la e tornar a escrita mais fácil sem tornar um fardo a brincadeira. Depois podemos concluir dizendo que o médico deverá assinar a receita. O que é assinar? Assinar é escrever o seu nome completo, vamos lá? Isso fará com que ele se aprimore na escrita do seu nome. 

- Corre Cotia: Ao brincar a professora poderá propor variações tais como etiquetas com letras coladas na costa de cada criança  quando a criança for uma vogal ela terá que deixar o lencinho ou a bola no coleguinha que for consoante e vice e versa, isso promoverá a atenção e a memorização das letras, poderá trabalhar par ou impar, cores, entre outras modalidades...

- Dança das cadeiras: Fazer dessa brincadeira uma aula de subtração, confeccionar um cartaz onde um símbolo represente o número de crianças envolvidas e outro símbolo as cadeiras que há no jogo, levantar questionamentos: o que tem mais? O que tem menos? O que acontecerá na hora que a música parar? Em seguida, à medida que as crianças brincam alguém fica responsável de riscar e fazer a contagem das cadeiras que são retiradas e do numero de crianças à brincar, todos contribuindo com o jogo e com os cálculos, e a professora sempre estimulando a aprendizagem, focando o objetivo da brincadeira.

Há muitas brincadeiras a serem desenvolvidas. Este projeto menciona apenas algumas sugestões, mas à medida que as crianças amadurecem, os jogos vão ganhando complexidade e novas metodologias. Cada época do ano traz consigo peculiaridades que nos instigam a trabalhar e criar novas formas e possibilidades. Por exemplo, o mês de Agosto, geralmente frio, mas no aconchego da sala podemos brincar com as palavras, parlendas, trava-lingua, trovinhas, cirandas... E por ai, vai... Setembro é tempo de florir, de cantar a primavera, de encher cestinhos com flores, de encenar o nascer das sementes, o cuidado com o jardim, é tocar com os olhos e tatear com o coração a natureza tão presente. São vivências e aprendizados de um uni-duni-tê que não escolhe, mas recolhe todos juntos para brincar mais uma vez!
           
            Produto Final

                              - A Confecção de um livreto, feito pelas crianças, cujo tema abordado seja: “Eu Aprendi brincando que...“




Capão Bonito, Agosto de 2012


Julia Campanucci

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Dia dos Pais



Antes que eles cresçam
Há um período em que os pais vão ficando órfãos de seus próprios filhos. É que as crianças crescem. Independentes de nós, como árvores tagarelas e pássaros estabanados, elas crescem sem pedir licença. Crescem como a inflação, independente do governo e da vontade popular, entre os estupros dos preços, os disparos dos dicursos e os assaltos das estações. Crescem com uma estridência alegre e às vezes, com alardeada arrogância.
Mas não crescem todos os dias, de igual maneira; crescem de repente. Um dia sentam-se perto de você no terraço e dizem uma frase com tal maturidade, que você sente que não pode mais trocar as fraldas daquela criatura.Onde é que andou crescendo aquela danadinha, que você não percebeu? Cadê aquele cheirinho de leite sobre a pele? Cadê a pazinha de brincar na areia, as festinhas de aniversário com palhaços, amiguinhos e o primeiro uniforme do maternal?
A criança está crescendo num ritual de obediência orgânica, desobediência civil. E você agora está ali, na porta da discoteca, esperando que ela não apenas cresça, mas apareça. Ali estão muitos pais, ao volante, esperando que saiam esfuziantes sobre patins, cabelos soltos.
Entre hamburguers e refrigerantes lá estão nossos filhos, com o uniforme de sua geração: incômodas mochilas da moda nos ombros nus, ou, então, com a blusa amarrada na cintura. Está quente, achamos que vão estragar a blusa, mas não tem jeito, é o emblema da geração.
Pois ali estamos, com os cabelos já embranquecidos. Esses são os filhos que conseguimos gerar apesar dos golpes dos ventos, das colheitas das notícias e das ditaduras das horas. E eles crescem meio amestrados, observando muitos erros.Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos próprios filhos.
Não mais os colhemos nas portas das discotecas e festas, quando surgiam entre gírias e canções. Passou o tempo do balé, do inglês, da natação e do judô. Saíram do banco de trás e passaram para o volante das próprias vidas.
Deveríamos ter ido mais à cama deles ao anoitecer, para ouvirmos sua alma respirando conversas e confidências entre os lençóis da infância e os adolescentes cobertos, naquele quarto cheio de adesivos, posters, agendas coloridas e discos ensurdecedores. Não, não os levamos suficientes vezes ao maldito Play Center, Shopping, não lhes demos suficientes hamburguers e cocas, não lhes compramos todos os sorvetes e roupas merecidas.
Eles cresceram sem que esgotássemos neles todo o nosso afeto.
No princípio subiam a serra ou iam à casa de praia entre embrulhos, bolachas, engarrafamentos, natais, páscoas, piscinas e amiguinhos. Sim, havia as brigas dentro do carro, disputa pela janela, pedido de chicletes e sanduíches, cantorias infantis. Depois chegou a idade em que viajar com os pais começou a ser um esforço, um sofrimento, pois era impossível largar a turma e os primeiros namorados. Os pais ficaram, então, exilados dos filhos. Tinham a solidão que sempre desejaram, mas, não de repente, morriam de saudades daquelas pestes.O jeito é esperar. Qualquer hora podem nos dar netos. O neto é a hora do carinho ocioso e estocado não exercido nos próprios filhos e que não pode morrer conosco. Por isso os avós são tão desmesurados e distribuem tão incontrolável afeição. Os netos são a última oportunidade de reeditar nosso afeto.
Por isso é necessário fazer alguma coisa a mais, antes que eles cresçam.
(Affonso Romano de Sant’anna)